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Igualdade de Gênero: Renata Chagas, do Instituto Neoenergia, defende papel das empresas

11/22/21

Primeira entrevistada da série de podcasts #DeixaElaTeInspirar, produzido pela Neoenergia, Renata Chagas, diretora-presidente do Instituto Neoenergia, falou sobre a importância do empreendedorismo feminino 

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Acredito que temos que usar o lugar que ocupamos, como líderes, para promover mudanças e inspirar homens e mulheres a querer um mundo mais justo”. É o que defende a diretora-presidente do Instituto Neoenergia, Renata Chagas. À frente de iniciativas que buscam estimular a redução da desigualdade de gênero, a executiva foi a primeira entrevistada da série de podcasts #DeixaElaTeInspirar, em que mulheres intraempreendedoras da Neoenergia contam suas histórias de vida e carreira, já disponível no Spotify. Sob o comando dela desde 2015, o Instituto realiza projetos que potencializam ações realizadas por mulheres e, este ano, realizou as primeiras edições do Impactô Mulheres – para aceleração social – e do Prêmio Inspirar – que reconheceu iniciativas lideradas por mulheres em Pernambuco e no Rio de Janeiro. 

Na entrevista, Renata Chagas afirma que as empresas têm papel social fundamental nesse processo de mudança por mais igualdade de gênero. Confira os principais trechos: 


O empreendedorismo feminino representa uma importante forma de garantir independência financeira às mulheres, reduzir a vulnerabilidade à violência e até promover transformações sociais em comunidades periféricas brasileiras. Como você enxerga esse processo para as mulheres hoje no Brasil, existe esse espaço? 

Tem espaço e nós vamos ocupá-lo. Mas, para ocupar, precisa estar sendo falado, discutido, debatido, precisa estar na pauta. Precisa de uma sociedade que enxergue que a desigualdade de gênero é uma realidade e que precisa ser mudada. Só a partir do conhecimento da realidade é que a gente se move para mudar alguma coisa. Por isso é importante trazer o tema à tona, que é o que estamos fazendo aqui. Trazendo dados, evidências, experiências pessoais, relatos de outras mulheres. Pensando em iniciativas para as mulheres. Educando nossos filhos para que vejam que existem diferenças, claro, e elas são saudáveis, mas que o direito básico precisa ser igual para meninos e meninas, homens e mulheres. 

Você possui uma importante cadeira numa grande empresa, que é a Neoenergia. De que forma você, mulher, avalia que os projetos do Instituto Neoenergia contribuem com esse empreendedorismo de gênero? 

Quando eu falo que a sociedade precisa se mobilizar para mudar a realidade, eu estou falando também das empresas, dos institutos e fundações, do poder público, dos cidadãos, de todos. Temos que entender que as empresas também cumprem um papel social. E no Instituto Neoenergia, que tem esse papel de ser o braço de atuação social da Neoenergia, temos pensado cada vez mais em projetos que coloquem o empreendedorismo de gênero no centro da roda. Todos os nossos projetos contribuem diretamente com um dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) que chamamos de prioritários, mas temos os ODS transversais também, e o de Igualdade de Gênero é um deles. Nós, que estamos nas comunidades, olhando para os mais vulneráveis, vemos diariamente a luta e a força das mulheres, e queremos que isso seja um impulsionador para o aumento do alcance dos projetos, para a construção de redes mais potentes. Também temos priorizado as parcerias do Instituto com organizações lideradas por mulheres, como o Ekloos da Andréa Gomides. Alguns negócios de impacto que passaram pelo Impactô também estão virando nossos prestadores de serviços para trabalhos de comunicação, por exemplo. Temos o objetivo de construir redes com essas mulheres. 

 
 

Falando sobre comunidades, como você acredita, pela sua experiência, que o empreendedorismo feminino promove impactos efetivos nesses locais? 

Nas comunidades mais vulneráveis, as mulheres exercem papeis centrais no cuidado da casa, dos filhos, da comida. Por outro lado, sofrem com o abandono, com a criação solitária dos filhos, com a violência doméstica. Isso não acontece só entre as mais pobres, é ilusão achar isso. Mas, como a missão do Instituto é transformar a vida das pessoas mais vulneráveis, então empoderar mulheres de comunidades é dar a elas independência financeira, autonomia, redução da dependência do marido que muitas vezes é seu agressor.  

No PLIS – Programa de Líderes de Impacto Social, conhecemos a Sarah foi uma das líderes sociais que participou do PLIS 2021 e que fundou a Aya Education, uma escola de inglês online idealizada e cultivada para pessoas pretas. Começou sua jornada no empreendedorismo social por conta da sua inquietação de ser a única negra nos ambientes que acessava por falar inglês. Em 2013, focando no ensino de pessoas pretas, desenvolveu sua própria metodologia. 

No Coralizar, temos cientistas mulheres à frente de pesquisas inovadoras de restauração de corais, como a Dr.ª Paula Braga, da Universidade Federal de Pernambuco. No projeto Flyways, Juliana Bosi, mulher, PHD em ecologia, evolução e biologia da conservação, é coordenadora do projeto desde 2015.  

Tem também a Associação Das Mulheres de Nazaré da Mata, da Eliane Rodrigues, lá de Pernambuco. Ela idealizou e fundou a Amunan, primeira instituição da Mata Norte de Pernambuco, para lutar pelos direitos humanos das mulheres. Ela vive até hoje na zona rural, trabalha no Sindicato dos Trabalhadores Rurais, convive com mulheres pobres e sofridas pela violência doméstica, prevalecendo a violência física e a obrigação de cuidar e criar os netos, visto que as filhas acabavam indo trabalhar como domésticas no Recife. Inicialmente traçar estratégias para a mulher sair de casa e que pudesse se expressar livremente, sem o olhar ameaçador do marido ou companheiro, foi um grande desafio. Hoje, ela tem projetos na área de formação de autonomia financeira das mulheres, na cultura. 

A igualdade de gênero é um dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) estabelecidos pela ONU na Agenda 2030. Você acredita que esses objetivos são importantes para empresas e sociedade? No caso da Neoenergia, por meio do seu Instituto, quais são as principais ações? 

Não tenho dúvida de que a agenda da ONU impulsiona o mundo todo a pensar junto nos desafios e soluções que se impõem. Não é uma agenda só das pessoas, nem só das empresas, é uma agenda coletiva, e como tal espera-se que tenha um alcance e um resultado melhor e mais abrangente também. No caso do Instituto Neoenergia, temos desenvolvido projetos em diferentes pilares, como educação, biodiversidade, cultura, ação social, mas todos eles estão diretamente conectados aos ODS, e cada vez mais nosso desafio e entender como podemos aumentar nossa contribuição aos ODS. Eles estão no centro de todas as nossas iniciativas e projetos. 

É muito importante a presença de mulheres em cargos de liderança. Para você, qual é a importância do seu papel e de outras executivas como intraempreendedoras na Neoenergia? Quais são os benefícios de ampliar a representatividade para a empresa e inspirar as jovens mulheres na companhia? 

Em uma entrevista de emprego, na última fase, o vice-presidente de uma empresa multinacional me fez a seguinte pergunta: você e seu marido têm uma situação confortável, ele é médico, como eu vou ter a segurança de saber que você não vai parar de trabalhar do dia para a noite para cuidar das crianças? Foi uma pergunta tão carregada de preconceito que eu fiquei em choque. E naquele momento eu decidi que lutar pela igualdade das mulheres seria uma bandeira minha, para que outras mulheres nunca precisem ouvir isso num futuro próximo. Então eu acredito que temos que usar o lugar que ocupamos, como líderes, para promover mudanças e inspirar homens e mulheres a querer um mundo mais justo. Vamos lembrar que homens ainda ocupam majoritariamente os cargos de liderança nas empresas e não há nenhuma razão, digamos, científica para isso. O que existe é fruto de um modelo de sociedade, centrado no homem, no pai que sai para trabalhar e da mãe que cuida da casa e dos filhos, que se refletiu nas empresas. 

Sobre o mercado, qual é o papel da iniciativa privada para incentivar o intraempreendedorismo feminino dentro das organizações? De que forma esse movimento reflete no ambiente externo e, consequentemente, quais são os seus benefícios para o desenvolvimento social do país? 

A Responsabilidade Social Corporativa serve para dentro de casa também, não só para fora. Neste sentido, eu acredito a área de Recursos Humanos das empresas tem papel fundamental na promoção da igualdade de oportunidades internas, de capacitação de homens e mulheres, de promover a agenda com eventos, debates, rodas de conversa. Claro que tudo isso precisa vir da alta liderança, então não é um trabalho sozinho do RH, precisa ser uma pauta genuína da empresa, precisa estar na estratégia, precisa vir pelo exemplo. As grandes empresas ditam tendências, apontam caminhos, então eu acho que podemos dizer que as mudanças nas empresas acabam refletindo em mudanças estruturais na sociedade, sim.

 


 

 

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