O empreendedorismo feminino no Brasil começou muito antes de as mulheres terem voz ativa e oportunidade para gerar emprego e renda a fim de potencializarem os seus ganhos. No início da história do país, a atividade era exercida para garantir a sobrevivência dos escravos.
Em maio de 1888, quando houve a abolição da escravatura, dezenas de famílias negras foram postas à margem da sociedade e teve início uma longa jornada pela sobrevivência na busca de emprego, abrigo e comida. Nessa época, mulheres negras que colhiam frutas em fazendas, por exemplo, iniciaram a atividade de quitandeiras em áreas centrais de maior movimento.

Segundo um estudo publicado pela Universidade Federal de Ouro Preto, a comercialização de produtos foi a ferramenta utilizada para garantir o sustento de famílias mais pobres que enfrentavam dificuldades naquele momento.
Com o passar dos anos, surgiram vagas para trabalhar como costureiras, enfermeiras, trabalhadoras domésticas, cozinheiras, babás, entre outras profissões, impulsionando a inserção da mulher no mercado de trabalho (muitas vezes informal), em um tempo em que o direito ao voto inexistia e a busca por igualdade de direitos estava longe de ser uma agenda de política pública. E algumas dessas funções, até hoje, ainda são exercidas na informalidade.
Ao mesmo tempo, ofícios como a confecção de bolos, salgadinhos, doces, assim como atividades em salões de beleza adaptados em garagens, por exemplo, cresceram no cenário econômico, sendo parte fundamental para geração de renda e oportunidades para as mulheres, sobretudo em lares em que elas eram as únicas provedoras das famílias.
Formalização do microempreendedor e a maior participação das mulheres nos negócios
Cerca de 20 anos após a elaboração da Constituição Brasileira de 1988, o empreendedorismo nacional foi contemplado com a Lei Complementar 128/2008, que criou o Microempreendedor Individual – MEI, trazendo a formalização para este setor.
Nas últimas décadas, a crescente luta por direitos em prol da equidade de gênero, autonomia e independência financeira tem sido acompanhada pela busca por mais investimentos no acesso à educação e ao mercado de trabalho em diversos níveis para as mulheres.
Neste contexto, surgem novos modelos de negócios liderados por elas. Hoje, há 10 milhões de mulheres à frente de negócios, segundo pesquisa realizada pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), a partir de dados do IBGE, o que representa 34,4% dos negócios existentes no país.
A necessidade da busca pela independência financeira é relatada por 40% das mulheres entrevistadas pelo Serasa Experian como o principal fator para empreender. Em 2020, a empresa divulgou uma pesquisa que apontou os setores onde as mulheres brasileiras mais trabalham como empreendedoras, e as atividades mais registradas foram os serviços de alimentação, confecções em geral e beleza.
Perfil da mulher empreendedora brasileira
Para entender as reais necessidades das empresárias brasileiras, o Instituto Rede Mulher Empreendedora faz pesquisas anuais para traçar perfis e identificar tendências. Em 2022, um levantamento apontou que a maior parte das empreendedoras são mães, negras, têm uma faixa etária entre 35 e 40 anos e possuem o ensino médio como grau de escolaridade. Além disso, 38% vivem em regiões periféricas.
O levantamento revelou ainda que 55% destes empreendimentos abertos por mulheres estão ligados a vendas em geral, e 32% à prestação de serviços.
Dia Mundial do Empreendedorismo Feminino
O Dia Mundial do Empreendedorismo feminino foi criado em 2014 pela Organização das Nações Unidas (ONU) para celebrar o protagonismo feminino diante dos pequenos negócios em vários países do mundo. A iniciativa ganhou apoio de 150 países, instituições e empresas que buscavam apoio para lutar contra a desigualdade salarial enfrentada por mulheres. Para celebrar este feito, foi escolhido o dia 19 de novembro.
Programas de apoio às empreendedoras
O SEBRAE Delas é uma iniciativa que oferece cursos para empreendedores que buscam mais qualificação, por meio da valorização, incentivo e aceleração da jornada de mulheres que querem empreender. Entre as ações contemplados pelo programa estão a orientação de como vender mais para aumentar os lucros, e como gerar emprego e renda para outras pessoas.
A Caixa Econômica Federal também criou um programa, chamado Empreendedoras, de apoio ao empreendedorismo feminino, que vai desde a formalização do negócio, até o fortalecimento da atividade.
Neoenergia em prol do empreendedorismo feminino
Dentro das comunidades periféricas, o Instituto Neoenergia lidera parcerias com organizações protagonizadas por mulheres. Entre as ações está o Prêmio Inspirar, que tem o objetivo de valorizar lideranças femininas que, por meio da arte e da cultura, impulsionam a transformação social em suas comunidades do Distrito Federal e de mais cinco estados - Bahia, Mato Grosso do Sul, Pernambuco, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte e São Paulo.
slider-image | Associação Comunitária das Louceiras Negras da Serra do Talhado
A Neoenergia também incentiva empreendedoras que produzem peças de barro em seus negócios, como a Associação Comunitária das Louceiras Negras da Serra do Talhado, entidade formada por mulheres da Comunidade Quilombola da Serra do Talhado Urbana, em Santa Luzia (PB). A iniciativa da companhia gerou diversos materiais de divulgação para dar maior visibilidade ao trabalho feito pelas artesãs, além de um curso de empreendedorismo.