Por Mario Ruiz-Tagle*
Quando enfrentamos os desafios de lutar contra as mudanças climáticas com a missão de descarbonizar a economia, o primeiro passo é mudar a forma como entendemos a mobilidade. Compreender esse conceito nos permite entender o cenário promissor que temos em vista. A venda de carros elétricos tem crescido anualmente mais de 50% nos últimos cinco anos, alcançando 10% dos veículos leves comercializados na Europa em 2020. Até 2019, os municípios brasileiros com mais unidades eram São Paulo (4.041), Brasília (1.086), Rio de Janeiro (991) e Curitiba (761) e o aumento de emplacamento de veículos elétricos foi de 66,5%, quando comparado 2020 a 2019. Isso mostra que, no Brasil, o veículo elétrico vem para ficar.
Mesmo diante de uma matriz de transporte mais limpa que a média mundial, com a forte presença de biocombustíveis, o Brasil deverá acompanhar o novo padrão tecnológico global por obsolescência dos motores a combustão. Muitos fabricantes têm declarado que deixarão de produzir veículos nesse formato até 2030, o que vai acelerar a transformação da indústria.
Com a eletrificação do transporte, ou seja, a ampliação do uso de veículos abastecidos por eletricidade e não combustíveis fósseis tradicionais, como o diesel, gás natural e gasolina, o setor elétrico deverá assumir um papel fundamental na descarbonização da economia, estimulando a transição energética. É um desafio que responde às demandas da população mundial e dos mais jovens que exigem investimentos em energias renováveis e fomento de um futuro sustentável.
Devemos reconhecer a relevância das empresas, em parceria com a sociedade, para garantir o crescimento de uma economia limpa. O uso de carros, ônibus e caminhões elétricos, diminuem a emissão de gases, em especial nos centros urbanos, contribuindo para a descarbonização. Dados do Programa de Mobilidade Elétrica da Organização das Nações Unidas (ONU) apontam que os meios de transporte representam 25% de todas as emissões de CO2 no mundo. Assim, acredito que a eletrificação da frota será o futuro da mobilidade veicular rural e urbana.
Nós, da Neoenergia, contribuímos com esse avanço criando projetos como os chamados Corredores Verdes, que são trechos de eletrovias distribuídas pelo território brasileiro, com eletropostos para o carregamento dos veículos elétricos que transitam por essas vias. Estamos entregando o maior corredor elétrico do Brasil, unindo Salvador a Natal, em uma distância de 1.100 quilômetros pela costa do Nordeste. Com isso, vamos oferecer à população um serviço moderno a partir de um modelo de negócio sustentável que estimule a mobilidade elétrica não apenas dentro das grandes cidades, mas conectando estados e regiões. Somos conscientes dos desafios que os eletropostos trazem para a rede elétrica. O tempo e velocidade de recarga são fundamentais para a viabilidade dessas iniciativas, além de torná-las massivas.
Investimos em soluções que atendam esses automóveis, criando a infraestrutura necessária para a recarga das frotas. Em uma experiência própria de incentivo à utilização de carros livres de emissões de poluentes, a companhia mantém, desde 2016, na Ilha de Fernando de Noronha, um veículo elétrico e o primeiro posto de energia solar, e iniciou o processo de ampliação do número de veículos, incluindo um ônibus elétrico, e dois eletropostos de abastecimento no arquipélago. Até 2030, todos os veículos movidos a combustão devem deixar a ilha.
Utilizamos carros movidos a eletricidade nas bases regionais e administrativas, com pontos de recarga e mais de 95% dos veículos executivos são híbridos e está em fase de desenvolvimento nosso primeiro caminhão elétrico para manutenção das redes de distribuição. Temos diversas oportunidades de avanço da tecnologia no Brasil, a exemplo da infraestrutura dos eletropostos, que podem ser abastecidos tanto pela rede de distribuição de energia quanto por soluções como instalações de mini geração eólica ou placas fotovoltaicas e baterias.
Importante destacar que para o avanço da mobilidade elétrica no Brasil é fundamental que seja estabelecido um arcabouço regulatório que assegure o ambiente de negócios para os investimentos necessários para a eletrificação do segmento de transporte. É necessário um conjunto de políticas públicas de incentivo à fabricação de veículos, proporcionando redução de impostos e valores mais atraentes. Isso garantiria a viabilidade desta tecnologia limpa e aumentando da participação de pessoas e empresas na aquisição desses automóveis.
A Neoenergia tem como foco promover a transformação energética e reconhece a mobilidade elétrica como um dos pilares para que isso aconteça. Estudamos formas de participar ativamente do mercado de recarga veicular, seguindo uma tendência global de ser uma plataforma de serviços e soluções integradas para os clientes. Embora possa parecer, esse não é um sonho distante. Exatamente como aconteceu com a energia eólica, que, há 20 anos, parecia uma ideia longínqua. Temos um volume de energia suficiente, em algumas épocas, para abastecer todo o Nordeste.
O Brasil precisa aproveitar seu enorme potencial solar fotovoltaico e eólico para o desenvolvimento dessas tecnologias de mobilidade. Em alguns meses, vamos inaugurar o Complexo Eólico Chafariz, no Sertão da Paraíba. Nosso empreendimento eólico será um impulsionador dessa transformação e nos prepara para as novas necessidades energéticas que a mobilidade elétrica traz.
A modernização da matriz elétrica brasileira é necessária, como o uso de bancos de baterias operando conjuntamente com energias renováveis. Incorporar novas tecnologias é uma escolha fundamental. É preciso trabalhar com antecipação, unindo as iniciativas para que a preservação do planeta seja uma realidade até 2050, como sugere a ONU em seus ODSs.
As estratégias de médio e longo prazo nos levarão para um mesmo destino em um futuro próximo. Acredito que essa virada de chave já está acontecendo e nosso trabalho e investimentos serão aceleradores das grandes mudanças que estão por vir.
*Artigo escrito por Mario Ruiz-Tagle, CEO da Neoenergia
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