
A energia elétrica é insumo
fundamental para o crescimento econômico do país e temos que garantir sua
oferta com custos eficientes para assegurar a recuperação econômica.
As fontes de geração de energia
renovável têm se expandido nos últimos anos, impulsionadas tanto pela redução
de custos desde 2010 (cerca de 85% nos painéis solares e 50% em eólicas),
quanto pelo crescente anseio em prol da descarbonização da economia mundial. No
Brasil, dada a grande oferta de recursos naturais, esse movimento é
intensificado pela qualidade dos ventos e pela irradiação solar. Hoje, 84% da
matriz nacional é renovável, principalmente hidráulica sem reservatório, e as
fontes solar e eólica centralizadas já superam 10% do total da capacidade
instalada do país.
Embora a geração hidráulica
ofereça como característica a regularidade, a partir da acumulação de água nos
reservatórios, as perspectivas para o Brasil são de significativo aumento da
energia renovável nas matrizes eólica e solar - fontes condicionadas à
disponibilidade instantânea de recursos e que podem apresentar volatilidade de
geração, sendo chamadas de intermitentes ou não controláveis. Espera-se que
eólica e solar respondam por 45% da expansão prevista de novos geradores
centralizados no país, de acordo com o Plano Decenal de Energia 2030.
Com o aumento da participação das
renováveis não controláveis na matriz elétrica, novos serviços serão
necessários para garantir a segurança operativa do sistema elétrico, tais como:
suprimento de potência e flexibilidade.
Atualmente, os reservatórios
hidrelétricos fazem o papel de regulação, juntamente com o parque termelétrico,
contudo, houve uma redução gradual do armazenamento nesses reservatórios em
cerca de 30%, desde 2002, com projeções estimando que alcançará aproximadamente
50% em 2024, entre outros fatores, da diminuição do regime de chuvas nas
regiões que formam a caixa de agua dos principais rios do Brasil. Por isso, é
preciso planejamento para um sistema robusto que considere a complementaridade
entre as fontes, estudos sobre tendências de redução de disponibilidade nos
reservatórios e tecnologias para otimização das plantas.
Entre as alternativas para
agregar segurança ao sistema, encontram-se as termelétricas a gás natural, com
custo bem mais em conta que térmicas
emergências a óleo diesel, aproveitamento da correlação sazonal entre
afluências hídricas e ventos, ampliação da capacidade de regularização do
sistema, seja por meio de novos projetos com reservatório, ou com a otimização
das cascatas e desenvolvimento de reservatórios em usinas fio d’água, ampliação
da potência das usinas existentes com a motorização de unidades geradoras
adicionais, além de tecnologias de armazenamento, como as usinas hidroelétrica
reversíveis, entre outras. Medidas desta natureza mostram-se urgentes diante da
redução das chuvas, um dos visíveis impactos das mudanças climáticas.
Hoje, o Brasil dispõe de um
parque termelétrico de 43 GW, sendo apenas 31% a gás natural. Ou seja, há
muitas usinas com elevados custos de operação, o que torna extremamente onerosa
a operação do sistema em períodos de escassez hídrica para garantir a segurança
de fornecimento. Por outro lado, existem uma série de usinas térmicas que tem
se mostrado muito eficientes, cujos contratos se encerram nos próximos dois
anos, que devem ser consideradas para garantia da segurança e eficiência do
sistema, sobretudo no Nordeste, onde há concentração do parque eólico e solar
brasileiro.
Como exemplo, cito a nossa usina
Termopernambuco, a segunda maior central de ciclo combinado do Nordeste,
produzindo 25% da energia consumida em Pernambuco e apresentando o Menor Custo
Variável (CVU) da região, e um dos mais baixos do Brasil. Em um cenário como o da crise hídrica que
vivemos, essas instalações têm sido essenciais para a operação do sistema, como
a Termopernambuco, que registrou recorde de geração e segue garantindo o
suprimento contínuo, inclusive, a pedido do Operador Nacional tendo sido
postergada a parada para manutenção, seguindo todos os protocolos operacionais
da instalação.
O leilão de capacidade, cujo
edital encontra-se em discussão em Consulta Púbica da Aneel, é um importante
passo na recontratação das usinas térmicas eficientes na expansão do parque
termelétrico que aporte flexibilidade ao sistema. Mas precisamos avançar mais.
Não podemos deixar de avaliar
importantes caminhos para otimizar os aproveitamentos já existentes, como
plantas fotovoltaicas associadas a usinas hidrelétricas e parques eólicos. É
igualmente fundamental que os atributos sejam adequadamente remunerados,
garantindo que tais projetos se tornem viáveis e contribuam com a segurança
energética e expansão equilibrada da matriz contribuindo com um maior
aproveitamento do sistema de transmissão que há passado por grandes
investimentos nos últimos anos
A regulação possui papel
fundamental no estabelecimento de regras para implementação da otimização nas
plantas existentes, como projetos híbridos e associados, usinas reversíveis, ou
mesmo novos aproveitamentos como eólica offshore.
A experiencia internacional
mostra a importância de investimentos em energias renováveis eólica onshore e
offshore, solar, hidrogênio verde e outras tecnologias que garantam
fornecimento de energia nos períodos de seca cada vez mais frequentes.
A energia elétrica é insumo
fundamental para o crescimento econômico do país e temos que garantir sua
oferta com custos eficientes para assegurar a recuperação econômica.
Artigo escrito por Mario Ruiz-Tagle, CEO da Neoenergia
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