Falando
sobre comunidades, como você acredita, pela sua experiência, que o
empreendedorismo feminino promove impactos efetivos nesses locais?
Nas
comunidades mais vulneráveis, as mulheres exercem papeis centrais no
cuidado da casa, dos filhos, da comida. Por outro lado, sofrem com o
abandono, com a criação solitária dos filhos, com a violência doméstica.
Isso não acontece só entre as mais pobres, é ilusão achar isso. Mas,
como a missão do Instituto é transformar a vida das pessoas mais
vulneráveis, então empoderar mulheres de comunidades é dar a elas
independência financeira, autonomia, redução da dependência do marido
que muitas vezes é seu agressor.
No
PLIS – Programa de Líderes de Impacto Social, conhecemos a Sarah foi
uma das líderes sociais que participou do PLIS 2021 e que fundou a Aya Education,
uma escola de inglês online idealizada e cultivada para pessoas pretas.
Começou sua jornada no empreendedorismo social por conta da sua
inquietação de ser a única negra nos ambientes que acessava por falar
inglês. Em 2013, focando no ensino de pessoas pretas, desenvolveu sua
própria metodologia.
No
Coralizar,
temos cientistas mulheres à frente de pesquisas inovadoras de
restauração de corais, como a Dr.ª Paula Braga, da Universidade Federal
de Pernambuco. No projeto Flyways, Juliana Bosi, mulher, PHD em
ecologia, evolução e biologia da conservação, é coordenadora do projeto
desde 2015.
Tem também a Associação Das Mulheres de Nazaré da Mata, da Eliane Rodrigues, lá de Pernambuco. Ela idealizou e fundou a Amunan,
primeira instituição da Mata Norte de Pernambuco, para lutar pelos
direitos humanos das mulheres. Ela vive até hoje na zona rural, trabalha
no Sindicato dos Trabalhadores Rurais, convive com mulheres pobres e
sofridas pela violência doméstica, prevalecendo a violência física e a
obrigação de cuidar e criar os netos, visto que as filhas acabavam indo
trabalhar como domésticas no Recife. Inicialmente traçar estratégias
para a mulher sair de casa e que pudesse se expressar livremente, sem o
olhar ameaçador do marido ou companheiro, foi um grande desafio. Hoje,
ela tem projetos na área de formação de autonomia financeira das
mulheres, na cultura.
A
igualdade de gênero é um dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável
(ODS) estabelecidos pela ONU na Agenda 2030. Você acredita que esses
objetivos são importantes para empresas e sociedade? No caso da
Neoenergia, por meio do seu Instituto, quais são as principais ações?
Não
tenho dúvida de que a agenda da ONU impulsiona o mundo todo a pensar
junto nos desafios e soluções que se impõem. Não é uma agenda só das
pessoas, nem só das empresas, é uma agenda coletiva, e como tal
espera-se que tenha um alcance e um resultado melhor e mais abrangente
também. No caso do Instituto Neoenergia,
temos desenvolvido projetos em diferentes pilares, como educação,
biodiversidade, cultura, ação social, mas todos eles estão diretamente
conectados aos ODS, e cada vez mais nosso desafio e entender como
podemos aumentar nossa contribuição aos ODS. Eles estão no centro de
todas as nossas iniciativas e projetos.
É
muito importante a presença de mulheres em cargos de liderança. Para
você, qual é a importância do seu papel e de outras executivas como
intraempreendedoras na Neoenergia? Quais são os benefícios de ampliar a
representatividade para a empresa e inspirar as jovens mulheres na
companhia?
Em
uma entrevista de emprego, na última fase, o vice-presidente de uma
empresa multinacional me fez a seguinte pergunta: você e seu marido têm
uma situação confortável, ele é médico, como eu vou ter a segurança de
saber que você não vai parar de trabalhar do dia para a noite para
cuidar das crianças? Foi uma pergunta tão carregada de preconceito que
eu fiquei em choque. E naquele momento eu decidi que lutar pela
igualdade das mulheres seria uma bandeira minha, para que outras
mulheres nunca precisem ouvir isso num futuro próximo. Então eu acredito
que temos que usar o lugar que ocupamos, como líderes, para promover
mudanças e inspirar homens e mulheres a querer um mundo mais justo.
Vamos lembrar que homens ainda ocupam majoritariamente os cargos de
liderança nas empresas e não há nenhuma razão, digamos, científica para
isso. O que existe é fruto de um modelo de sociedade, centrado no homem,
no pai que sai para trabalhar e da mãe que cuida da casa e dos filhos,
que se refletiu nas empresas.
Sobre o mercado, qual é o papel da iniciativa privada para incentivar o intraempreendedorismo
feminino dentro das organizações? De que forma esse movimento reflete
no ambiente externo e, consequentemente, quais são os seus benefícios
para o desenvolvimento social do país?
A
Responsabilidade Social Corporativa serve para dentro de casa também,
não só para fora. Neste sentido, eu acredito a área de Recursos Humanos
das empresas tem papel fundamental na promoção da igualdade de
oportunidades internas, de capacitação de homens e mulheres, de promover
a agenda com eventos, debates, rodas de conversa. Claro que tudo isso
precisa vir da alta liderança, então não é um trabalho sozinho do RH,
precisa ser uma pauta genuína da empresa, precisa estar na estratégia,
precisa vir pelo exemplo. As grandes empresas ditam tendências, apontam
caminhos, então eu acho que podemos dizer que as mudanças nas empresas
acabam refletindo em mudanças estruturais na sociedade, sim.
