Lara Piau foi a segunda
entrevistada do podcast #DeixaElaTeInspirar, produzido pela Neoenergia sobre
empreendedorismo feminino e mulheres no mercado de trabalho
A diretora jurídica da
Neoenergia, Lara Piau, foi a segunda entrevistada na série de podcasts
#DeixaElaTeInspirar, em que mulheres intraempreendedoras da companhia contam
suas trajetórias pessoais e profissionais – o novo episódio já disponível no Spotify. A executiva defendeu uma união
de esforços dos diversos setores da sociedade, como governos e empresas, para
avançar no cumprimento do Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU
de número 5, que estabelece a igualdade de gênero pauta. “Eu vejo a agenda
da ONU como fundamental, acho que é a nossa chance de lutar por um futuro
melhor, principalmente porque tem a força e a vantagem de envolver vários
setores da sociedade”, afirma. Lara Piau foi entrevistada pela
diretora-presidente do Instituto Neoenergia, Renata Chagas, sobre
empreendedorismo feminino e mulheres no mercado de trabalho. Leia os principais
trechos da conversa:
Renata Chagas - Você é
mãe de gêmeos, que hoje têm 15 anos. Como é conciliar a maternidade e a
profissão, ocupando uma posição de tanta responsabilidade na Neoenergia? Você acha
que a maternidade mudou sua forma de encarar o trabalho?
Lara Piau - Quando eu cheguei na
Neoenergia, eles tinham 5 anos e agora 15, então estou completando 10 anos de
Neoenergia. Eu nunca imaginei ter filhos gêmeos, eu achava que era uma coisa de
artista, uma realidade distante de mim, mas aconteceu e eu, ao mesmo tempo que
sempre me senti muito abençoada, sempre me senti diante de uma grande
responsabilidade. Ao mesmo tempo, nos sentíamos muito honrados de ter os
filhos, de estar constituindo aquela família. Na época, eu já era diretora
jurídica de uma grande empresa, nós não tínhamos família por perto, no Rio de Janeiro,
para ajudar, então, tivemos que nos desdobrar para conseguir dar conta de tudo.
Eles eram muito alérgicos, dormiam mal e muitas vezes eu via o dia amanhecer
cuidando deles. O dia amanhecia, eu tomava banho, trocava de roupa, seguia para
o trabalho e deixava as crianças na creche ou às vezes com uma babá. Os três
primeiros anos foram difíceis nesse aspecto, mas a verdade é que eu sempre me
senti honrada e agradecida por ter sido escolhida para estar ali. Eu sempre
tive a convicção de que muitas mulheres passam por situações muito mais
complexas, muito mais exigentes, e elas conseguiam e conseguem fazer tudo,
fazer bem, resolver e ir adiante. Tem gente até que tem que largar o emprego
para cuidar dos filhos. Uma pesquisa que foi feita fala que quase 30% das
mulheres, diante da chegada de um filho, têm que largar o emprego. Eu,
felizmente, não precisei largar o emprego, consegui ir adiante e eu penso que
eu tenho uma situação privilegiada, tenho que honrar essa condição
privilegiada. Particularmente, eu acho a Neoenergia uma empresa muito
diferenciada. É uma empresa de infraestrutura, que nós sabemos que tem uma
natureza, ou pelo menos originalmente, de um sistema que era mais conduzido por
homens, eu diria um sistema mais masculino, mas que está muito atenta à
diversidade, à inclusão, ao respeito, ao empoderamento. Não é à toa que a
Neoenergia hoje tem 43% de mulheres nas equipes corporativas, inclusive na
diretoria. Também sabemos que a Neoenergia foi pioneira ao criar a primeira Escola
de Eletricistas para mulheres do país, é uma iniciativa reconhecida inclusive
internacionalmente, pela ONU Mulheres e pela Organização Internacional do Trabalho
(OIT). Mais uma vez, me sinto honrada e privilegiada de ter a oportunidade de
trabalhar numa empresa que tem essa característica. Eu acho que me esforço ao
máximo, mas eu tenho também uma condição.
Renata Chagas - Você
acha que empresas como a Neoenergia e a Iberdrola puxam outras empresas? Qual é
a importância para você de ver empresas fazendo esse movimento de igualdade de
gênero?
Lara Piau - Eu vejo a Iberdrola e a Neoenergia
realmente um passo à frente em muitos aspectos, inclusive nesse. Nós acabamos
de falar na Neoenergia que é uma empresa tradicionalmente de infraestrutura,
que se esperaria mais “masculina”, e hoje nós temos 43% de mulheres na
corporação, na liderança, o que é muito impressionante. A Semana de Igualdade
de Gênero, promovida aqui pela Neoenergia, na minha opinião, foi uma
oportunidade importante para a conscientização de todos. Esse nosso bate-papo
aqui é um exemplo, confirma isso que nós estamos falando. Eu sou uma pessoa que
vem para o trabalho sabendo que eu venho para um ambiente que me realiza, que
me acolhe e que está pensando na promoção, no futuro, em retirar todas as
dificuldades de gênero, desenvolver, criar um ambiente que favoreça o
crescimento igualitário focado muito na competência e não no fato de ser homem
ou ser mulher.
Renata Chagas - Sabemos
que o setor elétrico é um ambiente predominantemente masculino, por isso, você
citou a Escola de Eletricistas para Mulheres, da Neoenergia. O ambiente
jurídico é masculino? Você vê alguma mudança? Quando você seleciona pessoas
para o seu time, esse equilíbrio entre homens e mulheres é uma preocupação?
Lara Piau - É uma preocupação, sim. Felizmente,
a verdade é que no caso das atividades jurídicas, estamos percebendo um
crescimento bastante expressivo da participação feminina. Eu também estava
lendo um tempo atrás, por exemplo, que em um dos últimos concursos para a
magistratura de São Paulo, o percentual de candidatas mulheres parece ter
ultrapassado 80%, o que mostra um envolvimento feminino muito grande na
atividade jurídica. No nosso dia a dia, vamos buscar currículos diante de uma
eventual vaga realmente tem aparecido mais currículos de mulheres advogadas do
que homens advogados. Hoje, no jurídico da Neoenergia, nós temos de fato uma
grande representatividade feminina. As cinco superintendências do jurídico que
nós temos hoje são ocupadas por mulheres e, dos seis gerentes, três são
mulheres e três são homens. O fato de as superintendentes serem mulheres foi
uma feliz coincidência porque no momento que surgiram as vagas elas realmente
eram aquelas que apresentavam qualificação, expertise, competência, maturidade
para o cargo. Não tem nada a ver o fato de que eu sou mulher e escolhi mulher, é
porque realmente elas estavam preparadas naquele momento, mas eu acredito muito
na ação conjunta e equilibrada entre homens e mulheres. No nosso ambiente
gerencial está bastante equilibrado, temos a mesma quantidade de gerentes do
sexo masculino e gerentes do sexo feminino, e eu acho que essa composição é
muito rica, traz uma bagagem muito importante. São reflexões, pontos de vista e
olhares que se complementam, se desafiam e, ao se complementar ou se desafiar, tornam
o trabalho ainda mais enriquecedor e mais capaz de se antecipar, porque o jurídico
pensa muito na antecipação das questões, no preventivo. Esse olhar que se
complementa de fato faz a diferença.
Renata Chagas - Essa
complementação seria um dos benefícios de ampliar a representatividade feminina
na empresa e inspirar outras mulheres a ocupar espaços?
Lara Piau - É essa complementariedade, é
esse olhar diferente, essa forma de fazer diferente, que se complementam e até
que provocam discussões no bom sentido para provar que existem outras formas de
ver, de enxergar outras análises, outras interpretações. Isso certamente
enriquece o trabalho.
Renata Chagas - Você já
sofreu algum tipo de preconceito ao longo da sua trajetória profissional por
ser mulher?
Lara Piau - Sim, até porque vim de uma família
mais humilde, do interior. Sempre tive muita clareza de que as exigências para
as mulheres são maiores, são mais estereótipos. Pela minha história, pela minha
condição, eu tentei focar naquilo que eu realmente precisava, que me parecia
importante. Mas hoje, olhando para trás com a consciência que eu tenho, com a
bagagem adquirida, eu vejo que sim, eu fui alvo de algum preconceito, de algum
comportamento misógino na minha caminhada. Eu ressalto muito que é no meu caso
porque eu tenho certeza que a realidade das pessoas não é a mesma, a história, as
jornadas são diferentes, mas no meu caso eu vejo que eu consegui superar e
focar naquilo que para mim era mais importante naquele momento, que era minha
atuação e meu desempenho. Mas eu acho que o caminhar não é simples e para uns,
ainda mais complexo. Vejo também que o cenário vem sendo alterado. Antes, por
exemplo, não se falava em questão de gênero e, apesar de ainda ter muita coisa
para melhorar, um caminho enorme pela frente porque de fato a equidade está
longe de ser resolvida, principalmente em alguns ambientes específicos, hoje o
mundo inteiro fala sobre o tema.
Renata Chagas - O que você
acha sobre a Agenda 2030 da ONU, que estabelece objetivos para o desenvolvimento
sustentável e especialmente sobre o ODS 5, que se refere à igualdade de gênero?
Qual a importância dessa agenda?
Lara Piau - Os Objetivos de Desenvolvimento
Sustentável são muito desafiadores. Apesar do fato de haver avanços, a própria ONU
e os estados-membro da ONU reconhecem que ainda tem um caminho a ser trilhado
para que essas disparidades de gênero deixem de existir. A verdade é que ainda
vivemos numa sociedade em que muitas mulheres e meninas, e hoje a gente sabe
que as mulheres representam a metade da população do mundo, elas ainda estão
sujeitas e sofrem em várias partes do mundo formas discriminação e violência. Eu
vejo a agenda da ONU como fundamental, acho que é a nossa chance de lutar por
um futuro melhor, principalmente porque tem a força e a vantagem de envolver vários
setores da sociedade, governos, lideranças políticas, a sociedade de um modo
geral, empresas públicas e privadas. Eu acho que essa união de esforços, esse
compromisso comum, realmente tende a nos ajudar a dar passos largos.