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Diretora jurídica da Neoenergia, Lara Piau defende união para avançar por igualdade de gênero

06/12/2021
06/12/21
 
 

Lara Piau foi a segunda entrevistada do podcast #DeixaElaTeInspirar, produzido pela Neoenergia sobre empreendedorismo feminino e mulheres no mercado de trabalho

A diretora jurídica da Neoenergia, Lara Piau, foi a segunda entrevistada na série de podcasts #DeixaElaTeInspirar, em que mulheres intraempreendedoras da companhia contam suas trajetórias pessoais e profissionais – o novo episódio já disponível no Spotify. A executiva defendeu uma união de esforços dos diversos setores da sociedade, como governos e empresas, para avançar no cumprimento do Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU de número 5, que estabelece a igualdade de gênero pauta. “Eu vejo a agenda da ONU como fundamental, acho que é a nossa chance de lutar por um futuro melhor, principalmente porque tem a força e a vantagem de envolver vários setores da sociedade”, afirma. Lara Piau foi entrevistada pela diretora-presidente do Instituto Neoenergia, Renata Chagas, sobre empreendedorismo feminino e mulheres no mercado de trabalho. Leia os principais trechos da conversa:

 

Renata Chagas - Você é mãe de gêmeos, que hoje têm 15 anos. Como é conciliar a maternidade e a profissão, ocupando uma posição de tanta responsabilidade na Neoenergia? Você acha que a maternidade mudou sua forma de encarar o trabalho?

Lara Piau - Quando eu cheguei na Neoenergia, eles tinham 5 anos e agora 15, então estou completando 10 anos de Neoenergia. Eu nunca imaginei ter filhos gêmeos, eu achava que era uma coisa de artista, uma realidade distante de mim, mas aconteceu e eu, ao mesmo tempo que sempre me senti muito abençoada, sempre me senti diante de uma grande responsabilidade. Ao mesmo tempo, nos sentíamos muito honrados de ter os filhos, de estar constituindo aquela família. Na época, eu já era diretora jurídica de uma grande empresa, nós não tínhamos família por perto, no Rio de Janeiro, para ajudar, então, tivemos que nos desdobrar para conseguir dar conta de tudo. Eles eram muito alérgicos, dormiam mal e muitas vezes eu via o dia amanhecer cuidando deles. O dia amanhecia, eu tomava banho, trocava de roupa, seguia para o trabalho e deixava as crianças na creche ou às vezes com uma babá. Os três primeiros anos foram difíceis nesse aspecto, mas a verdade é que eu sempre me senti honrada e agradecida por ter sido escolhida para estar ali. Eu sempre tive a convicção de que muitas mulheres passam por situações muito mais complexas, muito mais exigentes, e elas conseguiam e conseguem fazer tudo, fazer bem, resolver e ir adiante. Tem gente até que tem que largar o emprego para cuidar dos filhos. Uma pesquisa que foi feita fala que quase 30% das mulheres, diante da chegada de um filho, têm que largar o emprego. Eu, felizmente, não precisei largar o emprego, consegui ir adiante e eu penso que eu tenho uma situação privilegiada, tenho que honrar essa condição privilegiada. Particularmente, eu acho a Neoenergia uma empresa muito diferenciada. É uma empresa de infraestrutura, que nós sabemos que tem uma natureza, ou pelo menos originalmente, de um sistema que era mais conduzido por homens, eu diria um sistema mais masculino, mas que está muito atenta à diversidade, à inclusão, ao respeito, ao empoderamento. Não é à toa que a Neoenergia hoje tem 43% de mulheres nas equipes corporativas, inclusive na diretoria. Também sabemos que a Neoenergia foi pioneira ao criar a primeira Escola de Eletricistas para mulheres do país, é uma iniciativa reconhecida inclusive internacionalmente, pela ONU Mulheres e pela Organização Internacional do Trabalho (OIT). Mais uma vez, me sinto honrada e privilegiada de ter a oportunidade de trabalhar numa empresa que tem essa característica. Eu acho que me esforço ao máximo, mas eu tenho também uma condição.

 

Renata Chagas - Você acha que empresas como a Neoenergia e a Iberdrola puxam outras empresas? Qual é a importância para você de ver empresas fazendo esse movimento de igualdade de gênero?

Lara Piau - Eu vejo a Iberdrola e a Neoenergia realmente um passo à frente em muitos aspectos, inclusive nesse. Nós acabamos de falar na Neoenergia que é uma empresa tradicionalmente de infraestrutura, que se esperaria mais “masculina”, e hoje nós temos 43% de mulheres na corporação, na liderança, o que é muito impressionante. A Semana de Igualdade de Gênero, promovida aqui pela Neoenergia, na minha opinião, foi uma oportunidade importante para a conscientização de todos. Esse nosso bate-papo aqui é um exemplo, confirma isso que nós estamos falando. Eu sou uma pessoa que vem para o trabalho sabendo que eu venho para um ambiente que me realiza, que me acolhe e que está pensando na promoção, no futuro, em retirar todas as dificuldades de gênero, desenvolver, criar um ambiente que favoreça o crescimento igualitário focado muito na competência e não no fato de ser homem ou ser mulher. 

 

Renata Chagas - Sabemos que o setor elétrico é um ambiente predominantemente masculino, por isso, você citou a Escola de Eletricistas para Mulheres, da Neoenergia. O ambiente jurídico é masculino? Você vê alguma mudança? Quando você seleciona pessoas para o seu time, esse equilíbrio entre homens e mulheres é uma preocupação?

Lara Piau - É uma preocupação, sim. Felizmente, a verdade é que no caso das atividades jurídicas, estamos percebendo um crescimento bastante expressivo da participação feminina. Eu também estava lendo um tempo atrás, por exemplo, que em um dos últimos concursos para a magistratura de São Paulo, o percentual de candidatas mulheres parece ter ultrapassado 80%, o que mostra um envolvimento feminino muito grande na atividade jurídica. No nosso dia a dia, vamos buscar currículos diante de uma eventual vaga realmente tem aparecido mais currículos de mulheres advogadas do que homens advogados. Hoje, no jurídico da Neoenergia, nós temos de fato uma grande representatividade feminina. As cinco superintendências do jurídico que nós temos hoje são ocupadas por mulheres e, dos seis gerentes, três são mulheres e três são homens. O fato de as superintendentes serem mulheres foi uma feliz coincidência porque no momento que surgiram as vagas elas realmente eram aquelas que apresentavam qualificação, expertise, competência, maturidade para o cargo. Não tem nada a ver o fato de que eu sou mulher e escolhi mulher, é porque realmente elas estavam preparadas naquele momento, mas eu acredito muito na ação conjunta e equilibrada entre homens e mulheres. No nosso ambiente gerencial está bastante equilibrado, temos a mesma quantidade de gerentes do sexo masculino e gerentes do sexo feminino, e eu acho que essa composição é muito rica, traz uma bagagem muito importante. São reflexões, pontos de vista e olhares que se complementam, se desafiam e, ao se complementar ou se desafiar, tornam o trabalho ainda mais enriquecedor e mais capaz de se antecipar, porque o jurídico pensa muito na antecipação das questões, no preventivo. Esse olhar que se complementa de fato faz a diferença.

 

Renata Chagas - Essa complementação seria um dos benefícios de ampliar a representatividade feminina na empresa e inspirar outras mulheres a ocupar espaços?

Lara Piau - É essa complementariedade, é esse olhar diferente, essa forma de fazer diferente, que se complementam e até que provocam discussões no bom sentido para provar que existem outras formas de ver, de enxergar outras análises, outras interpretações. Isso certamente enriquece o trabalho.

 

Renata Chagas - Você já sofreu algum tipo de preconceito ao longo da sua trajetória profissional por ser mulher?

Lara Piau - Sim, até porque vim de uma família mais humilde, do interior. Sempre tive muita clareza de que as exigências para as mulheres são maiores, são mais estereótipos. Pela minha história, pela minha condição, eu tentei focar naquilo que eu realmente precisava, que me parecia importante. Mas hoje, olhando para trás com a consciência que eu tenho, com a bagagem adquirida, eu vejo que sim, eu fui alvo de algum preconceito, de algum comportamento misógino na minha caminhada. Eu ressalto muito que é no meu caso porque eu tenho certeza que a realidade das pessoas não é a mesma, a história, as jornadas são diferentes, mas no meu caso eu vejo que eu consegui superar e focar naquilo que para mim era mais importante naquele momento, que era minha atuação e meu desempenho. Mas eu acho que o caminhar não é simples e para uns, ainda mais complexo. Vejo também que o cenário vem sendo alterado. Antes, por exemplo, não se falava em questão de gênero e, apesar de ainda ter muita coisa para melhorar, um caminho enorme pela frente porque de fato a equidade está longe de ser resolvida, principalmente em alguns ambientes específicos, hoje o mundo inteiro fala sobre o tema.

 

Renata Chagas - O que você acha sobre a Agenda 2030 da ONU, que estabelece objetivos para o desenvolvimento sustentável e especialmente sobre o ODS 5, que se refere à igualdade de gênero? Qual a importância dessa agenda?

Lara Piau - Os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável são muito desafiadores. Apesar do fato de haver avanços, a própria ONU e os estados-membro da ONU reconhecem que ainda tem um caminho a ser trilhado para que essas disparidades de gênero deixem de existir. A verdade é que ainda vivemos numa sociedade em que muitas mulheres e meninas, e hoje a gente sabe que as mulheres representam a metade da população do mundo, elas ainda estão sujeitas e sofrem em várias partes do mundo formas discriminação e violência. Eu vejo a agenda da ONU como fundamental, acho que é a nossa chance de lutar por um futuro melhor, principalmente porque tem a força e a vantagem de envolver vários setores da sociedade, governos, lideranças políticas, a sociedade de um modo geral, empresas públicas e privadas. Eu acho que essa união de esforços, esse compromisso comum, realmente tende a nos ajudar a dar passos largos.

 

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