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Mario Ruiz-Tagle: Renováveis e a segurança energética, o equilíbrio para a sustentabilidade

05/10/21

 




     

 

A energia elétrica é insumo fundamental para o crescimento econômico do país e temos que garantir sua oferta com custos eficientes para assegurar a recuperação econômica.


As fontes de geração de energia renovável têm se expandido nos últimos anos, impulsionadas tanto pela redução de custos desde 2010 (cerca de 85% nos painéis solares e 50% em eólicas), quanto pelo crescente anseio em prol da descarbonização da economia mundial. No Brasil, dada a grande oferta de recursos naturais, esse movimento é intensificado pela qualidade dos ventos e pela irradiação solar. Hoje, 84% da matriz nacional é renovável, principalmente hidráulica sem reservatório, e as fontes solar e eólica centralizadas já superam 10% do total da capacidade instalada do país.

Embora a geração hidráulica ofereça como característica a regularidade, a partir da acumulação de água nos reservatórios, as perspectivas para o Brasil são de significativo aumento da energia renovável nas matrizes eólica e solar - fontes condicionadas à disponibilidade instantânea de recursos e que podem apresentar volatilidade de geração, sendo chamadas de intermitentes ou não controláveis. Espera-se que eólica e solar respondam por 45% da expansão prevista de novos geradores centralizados no país, de acordo com o Plano Decenal de Energia 2030.

Com o aumento da participação das renováveis não controláveis na matriz elétrica, novos serviços serão necessários para garantir a segurança operativa do sistema elétrico, tais como: suprimento de potência e flexibilidade.

Atualmente, os reservatórios hidrelétricos fazem o papel de regulação, juntamente com o parque termelétrico, contudo, houve uma redução gradual do armazenamento nesses reservatórios em cerca de 30%, desde 2002, com projeções estimando que alcançará aproximadamente 50% em 2024, entre outros fatores, da diminuição do regime de chuvas nas regiões que formam a caixa de agua dos principais rios do Brasil. Por isso, é preciso planejamento para um sistema robusto que considere a complementaridade entre as fontes, estudos sobre tendências de redução de disponibilidade nos reservatórios e tecnologias para otimização das plantas.

Entre as alternativas para agregar segurança ao sistema, encontram-se as termelétricas a gás natural, com custo  bem mais em conta que térmicas emergências a óleo diesel, aproveitamento da correlação sazonal entre afluências hídricas e ventos, ampliação da capacidade de regularização do sistema, seja por meio de novos projetos com reservatório, ou com a otimização das cascatas e desenvolvimento de reservatórios em usinas fio d’água, ampliação da potência das usinas existentes com a motorização de unidades geradoras adicionais, além de tecnologias de armazenamento, como as usinas hidroelétrica reversíveis, entre outras. Medidas desta natureza mostram-se urgentes diante da redução das chuvas, um dos visíveis impactos das mudanças climáticas.

Hoje, o Brasil dispõe de um parque termelétrico de 43 GW, sendo apenas 31% a gás natural. Ou seja, há muitas usinas com elevados custos de operação, o que torna extremamente onerosa a operação do sistema em períodos de escassez hídrica para garantir a segurança de fornecimento. Por outro lado, existem uma série de usinas térmicas que tem se mostrado muito eficientes, cujos contratos se encerram nos próximos dois anos, que devem ser consideradas para garantia da segurança e eficiência do sistema, sobretudo no Nordeste, onde há concentração do parque eólico e solar brasileiro.

Como exemplo, cito a nossa usina Termopernambuco, a segunda maior central de ciclo combinado do Nordeste, produzindo 25% da energia consumida em Pernambuco e apresentando o Menor Custo Variável (CVU) da região, e um dos mais baixos do Brasil.  Em um cenário como o da crise hídrica que vivemos, essas instalações têm sido essenciais para a operação do sistema, como a Termopernambuco, que registrou recorde de geração e segue garantindo o suprimento contínuo, inclusive, a pedido do Operador Nacional tendo sido postergada a parada para manutenção, seguindo todos os protocolos operacionais da instalação.

O leilão de capacidade, cujo edital encontra-se em discussão em Consulta Púbica da Aneel, é um importante passo na recontratação das usinas térmicas eficientes na expansão do parque termelétrico que aporte flexibilidade ao sistema. Mas precisamos avançar mais.

Não podemos deixar de avaliar importantes caminhos para otimizar os aproveitamentos já existentes, como plantas fotovoltaicas associadas a usinas hidrelétricas e parques eólicos. É igualmente fundamental que os atributos sejam adequadamente remunerados, garantindo que tais projetos se tornem viáveis e contribuam com a segurança energética e expansão equilibrada da matriz contribuindo com um maior aproveitamento do sistema de transmissão que há passado por grandes investimentos nos últimos anos

A regulação possui papel fundamental no estabelecimento de regras para implementação da otimização nas plantas existentes, como projetos híbridos e associados, usinas reversíveis, ou mesmo novos aproveitamentos como eólica offshore.

A experiencia internacional mostra a importância de investimentos em energias renováveis eólica onshore e offshore, solar, hidrogênio verde e outras tecnologias que garantam fornecimento de energia nos períodos de seca cada vez mais frequentes.

A energia elétrica é insumo fundamental para o crescimento econômico do país e temos que garantir sua oferta com custos eficientes para assegurar a recuperação econômica.

Artigo escrito por Mario Ruiz-Tagle, CEO da Neoenergia

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