A busca por soluções para aumentar a resiliência do oceano frente às mudanças climáticas é de suma importância para a manutenção da biodiversidade, principalmente para o Brasil. Com o objetivo de tornar agenda prioritária a restauração, a manutenção e a adaptação dos recifes de corais, espécies de suma importância para o equilíbrio dos ecossistemas de água salgada, nós do Instituto Neoenergia, em conjunto com o WWF-Brasil e parceiros locais, realizamos o projeto Coralizar. A iniciativa promove pesquisas e ações de restauração e educação ambiental, em especial, na Área de Proteção Ambiental Costa dos Corais (APACC), maior unidade de conservação federal marinha costeira do país, localizada no litoral de Pernambuco.

Segundo a lista vermelha da International Union for Conservation of Nature (IUCN), cerca de 36% das espécies de corais estão ameaçadas de extinção, dado que reforça a relevância do projeto. O Coralizar promove uma atividade pioneira na região, por meio de uma metodologia inovadora de manejo ativo e transplantação de corais. Fragmentos desses animais, desprendidos de suas colônias por ação humana ou das correntezas e condenados à morte, são coletados e manejados para berçários construídos em piscinas naturais e laboratórios em Tamandaré (PE) e no distrito de Porto de Galinhas, em Ipojuca (PE), onde poderão novamente se regenerar. A iniciativa concentra seus esforços na conservação de duas espécies nativas construtoras fundamentais para a biodiversidade marinha local, a Mussismilia harttii e a Millepora alcicornis.
 

Entender como os corais de águas profundas, denominados mesofóticos, estão sobrevivendo frente às mudanças climáticas também é parte do trabalho desenvolvido pelo Coralizar, pois ajuda a estabelecer estratégias de conservação das espécies que vivem em águas rasas e são mais sensíveis aos impactos do aquecimento global, como as encontradas no litoral de Pernambuco. Em 2021, o projeto realizou uma expedição de noves dias aos montes submarinos da cadeia de Fernando de Noronha, incluindo a Reserva Biológica do Atol das Rocas, unidade de conservação ambiental localizada a cerca de 150 quilômetros de Fernando de Noronha. Na expedição foram mapeados 34 quilômetros de fundo marinho e foram descobertas novas espécies não catalogadas pela literatura científica. Os dados coletados na incursão estão apoiando especialistas em pesquisas, inclusive auxiliando o entendimento da possibilidade de exportação de larvas dos recifes das profundezas para os recifes rasos, processo avaliado como de suma importância para a restauração natural de corais pós possíveis eventos de branqueamento.


A interlocução com a sociedade civil, incentivando a educação ambiental e o turismo regenerativo como formas de apoio ao desenvolvimento sustentável e preservação do oceano, também é uma importante frente do Coralizar. Em 2021, a Biofábrica de Corais, parceira do projeto, conquistou o Prêmio Braztoa de Sustentabilidade – o primeiro do mundo com chancela da Organização Mundial de Turismo (OMT) –, que reconhece boas práticas de sustentabilidade no âmbito do turismo nacional em contribuição à Agenda 2030 da ONU. Em 2022, a instituição também venceu o Prêmio Pernambuco de Turismo, por seu trabalho de turismo regenerativo nos ambientes recifais da região. Além dela, também são parceiras da iniciativa a Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), a Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), o Centro Nacional de Pesquisa e Conservação da Biodiversidade do Nordeste (CEPENE/ICMBio), o Instituto Recifes Costeiros (IRCOS) e o Instituto Nautilus. ​​​

Podcast e Documentário​​​​


Com o objetivo de integrar ainda mais a sociedade no debate sobre a restauração, manutenção e adaptação dos recifes de corais, lançamos em parceria com o WWF-Brasil um podcast de seis episódios sobre o Coralizar. Abordando a importância desses cnidários para a preservação da biodiversidade marinha, a iniciativa convidou especialistas para discutir o assunto de forma prática e didática.

O projeto também produziu um minidocumentário, em que são apresentadas imagens inéditas do processo de manejo ativo e transplantação dos corais na APACC, assim como depoimentos dos envolvidos na ação.​​​​​​​​​​​​​​

Principais resultados 

 

O Coralizar atua desde 2019 com a restauração de duas espécies de Coral na região da APA Costa dos Corais.  

Entre 2019 e 2021 aconteceu a Fase 1 do projeto que consistiu em 3 frentes de atuação:
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1) Geração e disseminação de conhecimento;
2) Promoção de iniciativas-piloto;
3) Fomento para novos modelos de negócios para restauração de corais.


Neste período foram feitas pesquisas sobre o tema, monitoramento de 3 piscinas naturais, restauração de 840 mudas de corais, instalação de 14 berçários na região e fomento ao turismo sustentável, impactando diretamente 15 jangadeiros e indiretamente 8.000 moradores, 60.000 turistas, 84 jangadeiros e 45 pescadores. Ainda, foi feito o “Desafio dos Corais” que mobilizou universitários a criar soluções inovadoras para a agenda de restauração de corais e uma expedição para o Atol das Rocas e região para mapear recifes mesofóticos (exibida no programa Globo Repórter). Os resultados do projeto saíram em grandes veículos de imprensa, como Folha de São Paulo, Globo Pernambuco, Bom Dia Brasil, Estadão, UOL, Repórter Eco, Revista FAPESP, entre outros. 


Entre 2022 e 2023 está acontecendo a Fase 2 do projeto, que consiste em 3 frentes de atuação:
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1) Integrar e escalar impacto das ações de conservação e restauração de Corais;
2) Desenvolver arranjo econômico-financeiro e de políticas públicas;
3) Promover engajamento da Sociedade.


Até o momento foram continuadas as atividades de restauração no município de Porto de Galinhas e foram iniciadas as atividades no município de Tamandaré, envolvendo a construção de um laboratório para cultivo ex situ no CEPENE. Além das atividades no território, foi apoiada a construção da Rede Coralizão, uma coalizão multi-stakeholders pela restauração e conservação de corais que visa incidir sobre políticas públicas nacionais.

O desenvolvimento de um arranjo econômico-financeiro para restauração de corais está sendo elaborado a partir da experiência de turismo azul focada no Turismo Regenerativo de Corais. Para engajamento da sociedade, até o momento foi produzido um podcast e 400 pessoas foram atingidas por ações de educação.