
Observatório das Baixadas realiza oficina de geração de dados sobre clima para jovens mobilizadores do Projeto Kindezi
Nos dias 15 e 16 de setembro, representantes do Observatório das Baixadas - coletivo de incidência climática de Belém, Pará - realizaram uma oficina de geração de dados cidadã para jovens mobilizadores e para o Projeto Kindezi, iniciativa do Instituto Cultural Bantu, em Vera Cruz, na Ilha de Itaparica, Bahia. A oficina teve o objetivo de oferecer formação à juventude na agenda climática e capacitá-la no uso do Atlas das Baixadas, plataforma aberta à contribuição de toda a população. O intercâmbio entre as organizações é apoiado pelo Instituto Neoenergia.
O Atlas das Baixadas é uma plataforma digital interativa criada com base em dados públicos de fontes oficiais. Seu objetivo é mapear e dar visibilidade às comunidades situadas em áreas de baixada em todo o Brasil. O Atlas permite identificar esses territórios e entender como suas populações lidam com os impactos das mudanças climáticas, a prevenção de desastres e a busca por justiça ambiental. Com ele, qualquer pessoa pode contribuir com informações sobre falta de infraestrutura, ações de resiliência comunitária ou inconsistências nos dados públicos.
A ferramenta disponibiliza análises a partir de camadas de informações sobre regiões suscetíveis a inundações nas capitais, favelas e comunidades, a partir dos dados do IBGE, regiões com obras do PAC e zonas amarelas - localidades que possuem atividades de resiliência produzidas pelas comunidades. Além disso, a plataforma passou a contemplar recentemente uma nova camada que compreende os dados raciais de pessoas pretas, pardas e indígenas, com dados do Censo 2022. Sobre a oficina, preparada especialmente para os jovens do Projeto Kindezi, Andrew Leal, cofundador e Coordenador Geral do Observatório das Baixadas, compartilhou sua percepção sobre a atividade. “Estamos aqui na Ilha de Vera Cruz para um intercâmbio de experiências, memórias e afetos. O Observatório das Baixadas trabalha muito com a pauta racial e da ancestralidade porque somos construídos pelo propósito de formar e oportunizar espaços para jovens da periferia. Então, trazer esses jovens da periferia de Belém e da periferia amazônica para a Bahia, que é um espaço que carrega uma ancestralidade muito forte, é essencial. Nós chegamos aqui com essa perspectiva de troca, porque o conhecimento não é unilateral. A gente ensina o que a gente sabe, mas a gente aprende também muita coisa. E estar aqui com o Instituto Cultural Bantu é uma oportunidade para as nossas juventudes”, comenta.
Intercâmbio entre iniciativas
O projeto Kindezi é uma iniciativa do Instituto Cultural Bantu com o apoio do Instituto Neoenergia. O projeto é uma iniciativa educacional com o objetivo de impulsionar um movimento de empoderamento e resgate cultural para transformar a vida dos participantes e da comunidade em que vivem. Para Mestre Roxinho, Fundador e CEO do Instituto Cultural Bantu, o Atlas é uma oportunidade de intensificar a participação social na região e contribuir com a geração de informações a respeito do local onde a instituição atua. “No pensamento de África, a gente não separa nada, está tudo num conjunto - principalmente os nossos jovens, que nós chamamos também de ancestrais. Eles são os nossos ancestrais jovens. Essa relação é de suma importância porque a gente precisa estar conectado com os mais jovens para que eles entendam o seu papel social e ambiental. Essa relação se dá a partir do processo de continuidade do que foi começado pelos que vieram antes, para que seja processado o trabalho de cuidado e de manutenção do nosso ecossistema. Os jovens do Instituto Cultural Bantu estão completamente impactados por esse contato com o Observatório das Baixadas. Algo novo, mas muito presente para eles porque esse é o momento deles. "É o tempo de agora", como diria Odé Kayodê. Eles precisam estar conectados com o tempo de agora, que exige a discussão de questões climáticas e condições sociais”, comenta.
O encontro entre as iniciativas visa somar forças, potências e conhecimentos, promovendo também o intercâmbio entre organizações apoiadas pelo Instituto Neoenergia. Para Renata Chagas, Diretora Presidente do Instituto Neoenergia, “o encontro entre o Observatório das Baixadas e o Kindezi, projetos incentivados pelo Instituto Neoenergia, foi uma oportunidade de intercâmbio de vivências, saberes e práticas entre o Norte e o Nordeste do Brasil. A nossa expectativa é de que, de posse desses dados e capacitados no uso do Atlas, esses jovens possam apoiar a sociedade no entendimento das realidades das comunidades, favelas e periferias e que possam, de maneira efetiva, participar da proposição de políticas públicas que garantam justiça climática”, comenta.